Quando algum adulto diz que “não passa de uma paixão adolescente”, não tem noção da magnitude que esses amores podem tomar em jovens que sofrem de algum transtorno mental ou transtorno de personalidade. A ansiedade, a bipolaridade, o excesso, o desespero, vão todos ao pico quando se fala de amor.
Todo adolescente passa pelas primeiras paixões, mas a forma de lidar com elas pode ser muito singular. Das mentes ansiosas às mentes bipolares, até as personas borderline, a psiquiatria pode explicar as tendências e as reações que esses sentimentos trazem.
A ansiedade, apesar de ser uma emoção presente na vida de todo ser humano, escala em algumas pessoas até um Transtorno de Ansiedade Generalizada, onde coisas pequenas podem crescer e tomar toda paz. Se uma paixão já pode tirar horas de sono, o medo da rejeição, a ansiedade por uma resposta, e a preocupação com o futuro podem deteriorar uma mente ansiosa por dias, semanas. Pessoas que lidam com transtornos de ansiedade, no geral, vivem em um limbo entre o passado e futuro, nunca parando no presente. Pensam no futuro da relação, os próximos anos, o casamento e os filhos de um relacionamento que no presente pode se resumir a um “bom dia” – é isso que traz uma desilusão amorosa torturante. Então, volta-se ao passado e a mente fica presa em arrependimentos de coisas, na maioria das vezes, irrelevantes, mas que são suficientes para um remorso incessante, que martela infinitamente.
Quando o caso é de uma pessoa com Transtorno Bipolar, pequenas atitudes podem ser o ponto de virada entre a euforia máxima e a depressão corrosiva. Em uma pesquisa da Pfizer, o Transtorno Bipolar foi caracterizado pela alternância de períodos em que a pessoa fica mais exaltada (mania), de episódios de depressão (hipomania) e de normalidade, uma doença que afeta principalmente jovens. Os pontos de virada são questões, em incidência, típica nessa idade, entre elas, as relações afetivas – que atualmente possuem fama de instáveis e inconsequentes. É aí onde paixões contrariadas pela rejeição dão início a uma fase depressiva, ou a uma euforia máxima e impulsiva quando há reciprocidade; os dois casos são danosos quando o indivíduo não tem noção das consequências de emoções extremas e de como isso reverbera em si. A vontade absurda de dar continuidade a nova paixão faz com que o bipolar ignore qualquer consequência em prol das boas sensações. É um grande desestabilizante.
Por fim, temos um caso ainda mais singular, os de indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline, também conhecido como Transtorno de Personalidade Limítrofe. Este, diferente dos transtornos acima, não é um caso em que se pode ficar curado, apenas controlado. O Transtorno de Personalidade Borderline, como próprio nome já disse, está intrínseco na personalidade do indivíduo, se nasce com, tal qual a psicopatia – em casos como o de Ted Bundy. Essa condição faz com que o indivíduo tenha mudanças de humor frequentes, relações sociais e pessoais instáveis e estado de espírito emocional inconstante. Algo realmente desequilibrado. É nesse contexto em que as relações amorosas fazem mais estrago. Quando se fala de personas borderline em relacionamentos amorosos, se fala em 100% emoção e 0% razão.
Uma pessoa com esse transtorno não se sente um indivíduo completo, com uma espécie de “vazio existencial em si”. É aí onde ela busca alguém para preencher seu vazio com um medo extremo da rejeição e do abandono, se tornando uma pessoa instável, intensa e até perigosa em função da sua impulsividade.
O Border necessita do outro para se validar como alguém, fazendo de tudo para manter o pretendente em sua vida. Ele se anula, se doa, e se decepciona com tal facilidade que um simples sinal de rejeição o leva a dor profunda. O amor é o que sustenta e deteriora um indivíduo borderline.
Por isso os trabalhos de conscientização são de suma importância e o tema saúde mental tão relevante. Transtornos como os citados interferem no dia a dia dos indivíduos, podendo desencadear problemas maiores, incluindo à saúde. O amor é algo lindo, ainda mais na adolescência, mas nunca será apenas flores se não for saudável.
Fontes:
● “Mentes que amam demais – o jeito Borderline de ser” da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa;
● https://www.pfizer.com.br/sua-saude/sistema-nervoso-central/transtorno-bipolar ;
● Poscast Inteligência Ltda com Ana Beatriz Barbosa.