Com a produção de adaptações de histórias já contadas ao público, seja através de animações ou páginas de um livro, levanta-se um questionamento: o quão fielmente deve-se representar a trama original?
Esse dilema tem sido muito presente nas redes sociais, um exemplo é a discussão que ocorreu a respeito do live action de “A Pequena Sereia”. A escolha de uma atriz negra para representar uma personagem originalmente branca gerou debates acalorados nas redes. Já mais recentemente, com o lançamento da 4ª temporada de “Bridgeton”, na Netflix, uma parte dos fãs se sentiu insatisfeita com as mudanças de enredo e de personagens.
Para entender essa discussão, precisamos reconhecer que essas alterações derivam de fatores diversos, mas que geralmente tem um foco principal: atingir mais pessoas. Muitas vezes é necessário realizar mudanças como essas para que a produção, além de agradar os fãs originais, também atraia e agrade novos telespectadores. O problema ocorre quando o público antigo entende que as adaptações precisam manter-se 100% fiéis às histórias originais, mesmo isso não sendo necessariamente verdade. É claro que existem adaptações que se propõe a reproduzir rigorosamente narrativas já existentes, podemos citar “Desventuras em Série”, série da Netflix que retrata perfeitamente a narrativa dos Baudelaires, contada por Lemony Snicket em uma coleção de 13 livros. Entretanto, é frequentemente necessário inserir novos elementos ou mesmo mudar aqueles já existentes, para que a produção se adapte a um cenário mais atual.
Várias dessas modificações são realizadas para inserir maior representatividade para as produções, o que só passou a ser visto como essencial pela crítica no fim do século XX. É necessário entender que são poucas as produções que colocam em foco indivíduos com características marginalizadas pela sociedade. Dessa forma, é também importante inserir representatividade em grandes adaptações, mesmo que seja preciso contrariar a versão original.
Contudo, é necessário entender que os fãs da obra original muitas vezes desejam ver representado nas telas exatamente o que já conhecem, com pouca aceitabilidade para mudanças, sejam elas grandes ou pequenas. Por isso, é fundamental que desde o início as adaptações mantenham claras as suas intenções ao recontar uma história, sendo essas de dispor de certa liberdade ou de ser uma réplica exata do enredo original. Sendo assim, evita-se desagradar os telespectadores com falsas expectativas.
Em resumo, enquanto alguns defendem a fidelidade à história original, outros reconhecem a necessidade de adaptações para atrair novos espectadores e refletir a diversidade contemporânea. Assim, equilibrar as expectativas dos fãs com inovações criativas é um desafio para os realizadores, que precisam reconhecer a importância de uma comunicação clara desde o início do projeto. No fim, a meta é uma só: cativar tanto os fãs originais quanto um público mais amplo.