A Internet como “Terra de ninguém” abriu espaço para o compartilhamento das mais diversas opiniões. Contudo, da mesma forma que permite um indivíduo pôr a público o que provavelmente não diria no meio de uma multidão, também permite um outro de contestar o que foi dito. A partir daí surgem as contestações extremistas feitas por alguém protegido por uma tela e sem medo de expor seu ódio.
Cancelar pessoas tornou-se algo comum e de bom tom. Como se seguisse a linha da *Teoria da Janela Quebrada, uma punição virtual severa por qualquer fala indevida foi a opção que a internet escolheu como favorita para ensinar algo ao criticado em questão. Em certos casos, um cancelamento rigoroso é sim necessário, visando tirar um indivíduo com discurso problemático da Internet; mas será mesmo que todo linchamento virtual é proporcional ao erro? Será que alguém merece uma punição perpétua sem a chance de redenção? É direito de alguém condenar eternamente outrem?
“O cancelamento digital é, em essência, uma forma de censura pública. Há uma linha tênue entre responsabilizar alguém e silenciar completamente sua voz.” — palavras da renomada autora canadense Margaret Atwood.
Extremamente pela fama de “Terra de Ninguém”, as regras são feitas pelos próprios indivíduos que as seguem ao passo que quebram os princípios criados por outros.
Justiça ou Cyberbulling?
Hana Kimura foi uma lutadora que, após um incidente no reality show em que participava, recebeu uma avalanche de mensagens de ódio. Em 2020, Hana cometeu suicídio, e seu caso gerou uma discussão sobre a necessidade da regulamentação do discurso de ódio pela Internet.
Justiça ou Preconceito?
Um caso de conhecimento geral dos brasileiros foi o da cantora Karol Konká. Após sua participação intensamente criticada no BBB21, a mulher foi eliminada com a porcentagem histórica de 99,17% de rejeição. A represália à Karol veio principalmente de situações de hostilidade, nas quais ela foi acusada de arrogância, autoritarismo e bullying. Como uma figura pública, a cantora teve sua carreira profissional perto de ser derrubada, perdendo contratos, patrocínios e seguidores. O cenário foi tão preocupante que a emissora globo, responsável pelo Big Brother, interviu produzindo um documentário de redenção para Karol, “A Vida Depois do Tombo”. Diversas atitudes da cantora, foram sim, passíveis de críticas, mas nem mesmo casos de abuso explícito dentro do programa sofreram um linchamento do nível de Karol Konká.
Contudo, como tudo nesse mundo, ainda existem aquelas pessoas que se aproveitam da atenção crítica de um cancelamento para se autopromover. Tanto casos estrangeiros, como o de Logan Paul, como conhecidos casos brasileiros incluindo VihTube e Virgínia. Essas personalidades fizeram bom uso de um cancelamento e, através de um julgamento severo mas repleto de visibilidade, todos eles são cheios de fama e dinheiro.
A cultura do cancelamento e suas diversas facetas são o que sustentam a internet de hoje. Assuntos do momentos e os famosos da vez sempre passarão pelo crivo da rigorosa opinião pública. Será que existe saída?