O que o poder fez com a gente?

“Um defeito de cor”, o nome do livro da Ana Maria Gonçalves. Eu sempre penso nesse titulo. Que título maravilhoso para se dar a um livro sobre racismo. É o que todos nós sempre achamos que fosse a causa do racismo: um defeito de cor. Branco é a cor perfeita; ou, tudo bem, é a cor de pele; melhor, a cor civilizada; se nenhum desses te agrada, você há de concordar que branco é, ao menos, a cor endinheirada. Preto é a cor do pobre, ou do selvagem da África, é aquele que você tem nojo; seu nojento, seu hipócrita.

 

Eu sempre pensava: por que os negros? Por que não o contrário? Talvez fosse um defeito de cor. Talvez fossem mesmo a geração maldita de cam.

 

Foi uma coincidência. Hoje nós poderíamos estar lutando pelos direitos dos brancos se não fosse pela coincidência do surgimento de agrupamento sociais mais antigos, além do desenvolvimento de armas e de instrumentos de navegação, naquela região que alguém deu o nome de “europa”, que tinha a maioria da população branca. Colombo por coincidência tenta chegar às Índias de outra forma; por que não dar a volta pelo outro lado? Por uma coincidência ele e outros europeus acharam um continente até então desconhecido.

 

Acharam uma terra que tinha povos mestiços. Esse encontro de raças aconteceu por acaso; os rumos poderiam ter sido outros, bastaria a não invenção do navio e do avião que até hoje a chamada de “américa” não teria entrado no conhecimento dos europeus – como alguma ainda ilha deve ser desconhecida. Mas, apesar da coincidência de como foi esse encontro de raças, tem uma coisa, sim, que fez surgir o racismo, a qual existe nos brancos, nos pardos, nos negros e variações, porque faz parte da natureza humana. A fome por poder.

 

Os europeus encontraram os povos mestiços, apelidaram-nos de “índios”. E agora? Quem tem mais poder? Quem tem o poder de subjugar um ao outro? Por obra do acaso, aqueles seres humanos nascidos naquela região fria tinham criado armas e táticas de guerras, ao longo de vários anos, que foram mais fortes do que os arcos e flechas, além dos outros artifícios, dos indígenas. Os da pele clara ganharam! Façam vocês, então, a extração do pau-brasil. Agora! Acabou o pau-brasil, nasceu o brasil, nasceu a indústria do açúcar. Vamos lá buscar os daquela “África”, que eles já conhecem o serviço. De novo, o poder foi dos brancos e, de guerra em guerra, de sangue em sangue, de morte em morte, eis a escravidão, a perpetuação do poder dos brancos sobre os negros.

 

Afinal, quem não gosta de ter um poder? Quem? É da natureza humana. Que escravo não subjugaria outro escravo se pudesse? Que negro que não subjugaria um branco, se a ordem das coisas tivesse sido outra? Quem não está concordando com o capitalismo? Está todo mundo aceitando esperando chegar a sua vez de oprimir. Por que fazemos o que fazemos? Por que você estuda? É para entrar no mercado de trabalho, ganhar muito dinheiro, como você quer, e estar no topo da pirâmide pisando em cima de todos os outros. Por que brancos e pretos querem dinheiro? Dinheiro é poder. Marca é poder. E o capitalismo nunca é ruim de mais pra quem tem o poder e também pra quem não tem, porque estes últimos acreditam que um dia irão conseguir.

 

E, é sempre bom lembrar, que o poder envolve disputa. Sempre de um lado vai ter quem venceu, provavelmente quem escreve e quem lê esse texto, e quem perdeu, que nem sonha saber ler. Sempre vai ter a pessoa pra quem tudo sobra e a pessoa pra quem tudo falta. Sempre vai ter o ser humano, que, como todo egoísta humano, tentou atingir o poder, mas fracassou e morreu; e do outro lado, que vai pagar sua bolsa, o seu banquete ou o seu estudo, com o dinheiro manchado de sangue.

Por:​
Fernanda Oliveira

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