Do Brasil ao MIT

Entrevista Exclusiva Com Aluno De Uma das Melhores Faculdades Do Mundo.

O Massachusetts Institute of Technology (MIT) é renomado por atrair mentes brilhantes e inovadoras de todo o mundo. Durante uma conversa exclusiva, a aluna Isabela Egídio teve a oportunidade de entrevistar um estudante excepcional do MIT, Pietro. Nesta entrevista, exploramos não apenas sua jornada acadêmica, mas também sua vida pessoal, seus insights sobre desafios contemporâneos, as possibilidades da tecnologia e sua visão para o futuro. Suas experiências e perspectivas oferecem uma visão valiosa sobre a interseção entre a educação de ponta e a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos. A conversa revela não apenas a excepcionalidade acadêmica de Pietro, mas também sua incrível jornada pessoal, desde os primeiros passos na matemática até sua missão de aplicar a inteligência artificial para garantir o melhor para a humanidade.

 

Qual seu nome, idade e de onde você é originalmente?

Meu nome é Pietro, tenho 22 anos e sou de Goiânia mesmo.

 

Quais olimpíadas você fez antes de entrar no MIT? Quais premiações você ganhou?

Internacionalmente, eu fiz praticamente todas as olimpíadas de matemática e ganhei prata na IMO, bronze na Romênia Master de Matemática, prata na Ibero-Americana de Matemática,  prata na Iraniana de Geometria e bronze na Asia Pacific Mathematics Olympics. Nacionalmente, eu ganhei muitas premiações também, na OBF e na OBM, onde eu fiquei em primeiro lugar no Brasil uma vez. Eu fazia todas as olimpíadas, como a OMEG, desde o quarto ano, e fui me destacando.

 

Você reconhece que fazer a OMEG desde o quarto ano não é uma coisa normal, né?

Sim, eu reconheço, eu dei muita sorte. Meus pais não me cobravam muito, só queriam que eu passasse de ano, mas eu tive um professor que apostou em mim e me inscrevia nessas olimpíadas.

 

Então foi ele que percebeu que você tinha um certo dom para matemática?

Assim, pode-se dizer que sim. Eu sei que tinha algum tipo de problema, eu não calava a boca na aula, aí ele escrevia umas contas muito longas no quadro branco e eu passava 40 minutos da aula resolvendo os exercícios como louco, enquanto ele dava aula.

 

Você sempre gostou de matemática ou aprendeu a gostar com o tempo?

Eu comecei a aprender matemática quando esse professor pegou na minha mão e falou: “Vamos estudar matemática.”. Ele ficava depois da aula comigo fazendo exercícios, me ensinando mais coisas porque ele acreditava em mim. Por exemplo, quando eu estava no quarto ano, ele me mandou ler o livro didático inteiro. Eu li o daquele ano e do quinto e sexto anos também. E quando eu estava no quinto ano, eu terminei todos os livros didáticos de matemática até o ensino médio.

 

Por que você participava das olimpíadas de matemática? Era por gosto ou por querer aplicar os conhecimentos adquiridos?

Eu participava porque gostava. Na verdade, eu só fui saber o que era “application” no final do segundo ano, depois de ter feito sete anos de olimpíada. Na minha antiga escola, houve uma situação em que o dono da escola durante meu primeiro ano de ensino médio  me disse que, depois das férias de julho daquele ano, eu iria ingressar no terceiro ano porque eu estava “enchendo o saco” dos meus professores nas aulas e não estava aprendendo mais nada. Para vocês terem uma noção, eu já havia passado para Medicina no nono ano na UFG.

 

Então você recusou a proposta do dono da escola?

Sim, eu recusei. Eu disse que teria tempo para fazer olimpíadas de matemática e neguei o pedido para ir para o terceiro ano. Eu nem contei para os meus pais que ele me ofereceu isso. Eu estava tão apaixonado pela possibilidade de ganhar mais olimpíadas que eu pensei: “Não, eu vou gastar dois anos extras da minha vida só para ganhar mais medalhas”.

 

E como você conseguiu passar no vestibular de Medicina na UFG?

Eu nunca estudei em casa durante a minha vida na escola. No entanto, eu não tinha amigos, então não tinha o que fazer durante a aula, então eu prestava atenção. E também eu tinha algum tipo de problema na cabeça, isso é fato.

 

E você já tinha visto todas as matérias que iriam cair no vestibular?

Não, mas os conhecimentos que eu tinha adquirido estudando para as olimpíadas de química, por exemplo, me ajudaram.

 

Antes de entrar no MIT, o que você queria fazer?

Na verdade, eu não tinha planos específicos. Quando ganhei a medalha da Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas, o regente da Universidade Federal de Goiás me disse brincando que, quando eu entrasse na faculdade, poderia vir estudar lá que teria minha vaga garantida. Levei isso a sério e pensei “menos uma coisa para me preocupar”.

 

E como você entrou no Arena? Você estava em Gap year*?

*”Gap year”: Refere-se ao ano que um estudante tira para viajar, trabalhar, realizar voluntariado ou participar de outras atividades enriquecedoras antes de ingressar em um curso universitário ou começar sua carreira profissional.

O Arena não existia quando eu era aluno, mas quando terminei o ensino médio, eu precisava de um lugar para trabalhar. O Arena estava surgindo e tinha indícios de se tornar algo muito bom, então fui para lá. Sim, eu estava em Gap por 6 meses porque a IMO eu fiz 6 meses depois de terminar o ensino médio, e eu queria trabalhar, porque dinheiro é bom, né? E assim, no Brasil só tinha uma pessoa que era louca o suficiente para contratar um aluno que acabou de terminar o ensino médio para dar aula para sua turma, o Argentino. Nós demos aulas por 2 anos. Dei aula de cálculo para a turma ITA, de olimpíada e dava plantão. A princípio, era para eu ser substituto do argentino para a turma ITA, mas acabou que eu dei aula o ano inteiro para eles.

 

Quais são seus objetivos para depois da faculdade, dominar o mundo?

Meio que isso, já assistiu Perry, o Ornitorrinco? Sabe o Doctor Doofenshmirtz? Então, eu quero ser aquele cara. Eu quero fazer pesquisa em inteligência artificial para garantir que não vai acontecer o fim da humanidade. Resumidamente, eu quero ser pesquisador de inteligência artificial em empresas privadas.

 

Você está pensando em fazer uma especialização?

As pessoas que trabalham com o que quero trabalhar não costumam fazer especialização, mas eu faria se fosse necessário. Por enquanto, não tenho planos.

 

Quais foram as mudanças de perspectiva que você teve após entrar no MIT?

A única coisa que eu posso pensar agora, que não tem relevância para ninguém a não ser a mim mesmo, é que eu tive que reaprender a como viver em uma rotina de sala de aula. Eu tive que aprender a disciplina básica de fazer tarefa de casa, porque eu não tinha feito isso antes. Outro ponto também é que muitos resultados que tinham grande relevância para mim deixaram de ter quando eu entrei. Eu não ligo para o fato de que hoje eu não tenho ganhado ouro na IMO, apesar de isso ter sido um choque pra mim.

 

Como você escolheu inteligência artificial como curso?

Foi um caminho meio longo, antes eu queria fazer engenharia elétrica, mas com o tempo eu fui percebendo a real importância da inteligência artificial se você realmente quiser fazer uma diferença no mundo de forma efetiva. Eu tenho zero paixão pelo curso, só estou estudando porque percebi que é importante e preciso estudar se realmente eu quiser fazer uma diferença no mundo. Se fosse por paixão eu estaria montando computadores e estudando matemática até hoje.

 

Quais conteúdos avançados você está vendo no momento?

Neste semestre, estou fazendo aulas de economia, machine learning, algoritmos avançados e outras.

 

Quais foram as suas matérias favoritas no MIT?

Minhas matérias favoritas foram a aula de música, onde aprendi teoria musical, tocar piano e cantar, e a aula de inteligência artificial e machine learning, onde aprendi sobre cognição humana e como aplicar a inteligência artificial para entendê-la.

 

No próprio MIT tem algum tipo de olimpíada feita para os próprios alunos?

Existe uma olimpíada chamada Putnam, no Brasil é como se fosse uma olimpíada de matemática das universidades.

 

E você fez essa olimpíada?

Eu não. No primeiro semestre, quando eu cheguei aqui, eu até achei que ia fazer, fui para alguns seminários preparatórios, mas nunca fiz. Depois que eu saí das olimpíadas, percebi que é um negócio muito divertido de fazer, que me fez chegar no MIT, mas matemática pura não serve para nada no planeta Terra. É divertido. Mas que alguém vai usar um triângulo equilátero na vida real? É a coisa mais divertida do mundo, mas eu queria fazer algo útil. Eu parei de fazer matemática quando cheguei aqui.

 


Com essa troca inspiradora de ideias e experiências, encerramos essa entrevista exclusiva com Pietro, um estudante excepcional do MIT, cuja paixão pela matemática e pela inteligência artificial promete impactar positivamente o mundo em que vivemos.

Por:​
Isabela Egídio

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