Não se engane: não vou falar de filmes, mas entenda a cena: Emma Stone ganhou, pela segunda vez, o Oscar de Melhor Atriz, e, como de costume, a vencedora do ano anterior o entregou. Essa era Michelle Yeoh, que havia atuado no filme “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” – exatamente o que o título promete. O filme segue Evelyn, uma mulher chinesa tentando viver nos Estados Unidos – enfrentando o sarcasmo da filha, um possível divórcio e a rigidez do pai. Mas tudo deixa de ser importante de uma só vez: Evelyn descobre que há um multiverso em perigo, um perigo bem mais pessoal do que ela imagina.
Há muitas coisas especiais nesse filme (tanto que levou sete estatuetas de ouro), mas existe esclarecido nele um conceito novo e transcendental em sua essência: o Metamodernismo. Meta, prefixo grego usado, aqui, para falar tanto de algo que está para além como de algo que faz referência a si mesmo, por exemplo metafísica e metalinguagem.
Metamodernismo é um fenômeno cultural, artístico e filosófico que se alastrou recentemente, trazendo consigo elementos do Modernismo e do Pós-modernismo em um só lugar. Aqui, o Modernismo é um conjunto de ideias e sentimentos característicos da primeira metade do século XX: otimismo, objetividade e valores bem estabelecidos. Já o Pós-modernismo desconstrói o pragmatismo anterior: o mal é vigente no homem, há sempre exceções acontecendo e valores – quando já não perdem a força – podem simplesmente não existir. Na arte, o Pós-modernismo utiliza recursos para descredibilizar a própria narrativa. Nada importa.
Mas, então, chega o Metamodernismo. Vivemos em uma era de informação, e, com as redes sociais, você espia o outro lado do mundo. Tudo está acontecendo no seu celular em qualquer lugar que você desejar. Não é possível, em um remix de notícias boas e ruins, viver preso ao niilismo do Pós-modernismo, e não é possível ignorar as injustiças do mundo. Logo, o Metamodernismo prevê, quase cirurgicamente, um meio termo entre seus predecessores: o uso do sarcasmo para fins sérios; a ironia para uma lição de moral. Na arte, no humor, no dia a dia, os elementos sombrios do Pós-modernismo são usados para reforçar a verdade e a narrativa.
“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” é um filme consolidado nessa nova tendência cultural, e, usando a comédia e o multiverso, cria uma narrativa cativante e profunda sobre o sentido da própria vida em um mundo existencialmente complexo. Se você achou o Metamodernismo interessante e ainda não viu o filme, que tal experimentar essa explosão de ideias cinematográficas e entender mais esse fenômeno?