Excepcional

As rachaduras também são janelas

 

Tira, então, mundo, o ar dos meus pulmões,

Pode verter toda a vista do meu quarto em bolha e breu.

Achei em uma noite todo o ar que quero,

Quero cansar-me de ser tudo menos eu.

Mas as estrelas passam, e a noite – lenta – vai saindo de cena.

 

A luz arranha pela janela e espia o quarto.

Um bocejo mundial acorda tudo que eu poderia ser:

Máquina, pássaro, mágico, príncipe, máximo.

A porta se abre num rangido universal,

E o espelho me mostra um segredo animal,

E o meu quarto se quebra como um vaso.

 

Aquela noite já passou e não volta mais.

Agora, quero me cansar de ser eu mesmo.

Quero cansar de ver a manhã se descobrir toda

E derramar sua luz de mel sobre os topos dos prédios.

Quero cansar de ler os poemas doidos

E de rir e chorar como quem os têm lido.

Quero cansar de esperar tudo passar.

 

Mas não consigo, nem quero parar.

Por:​
Felipe Santos

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